09/12/10

our party?


Estou trancado numa sala, vazia, estou sozinho e o meu olhar não se desprende da única saída deste lugar: uma porta preta com um ar bastante maciço, está fechada. Rastejo-me no chão para tentar chegar até ela, mas estou mole, as minhas roupas estão muito quentes e coladas ao meu corpo mais que molhado da transpiração. Ouço sons vindos do lado de lá da porta, tudo indica que haja uma festa a poucos metros de mim, as pessoas falam alto, riem e batem os pés ao som da música, variados aromas de comida penetram nas minhas narinas e torturam o meu estômago esfomeado; quero sair, quero participar nessa festa, mas quanto mais força faço para chegar à porta, mais devagar me movo. O meu cansaço é de alguém que correu quilómetros sem parar, mas estou apenas há 2 metros de onde estava no início, e isso desespera-me. Nunca quis tanto algo, nunca me senti tão excluído, tão à parte, sinto que estou a perder momentos de vida, sinto-me cada vez mais um ninguém esquecido. Estico o meu braço e consigo finalmente agarrar a maçaneta da porta, é quando surge um suspiro de esperança, porém os meus dedos começam a derreter como cera quente, e a escorrer pelos meus braços como o corpo de uma vela usada. Deixo-me desfalecer, enquanto todo o meu organismo se transforma em líquido; consigo pensar, consigo raciocinar, mas já não existo, a solidão e a louca e impossível vontade de participar naquela festa mataram-me e transformaram-me em nada. O meu corpo que já não se pode chamar de corpo enrijece e vira apenas uma mancha grossa no chão, a centímetros daquela porta.

04/12/10

desafio - 6º dia.

O que faço antes de dormir.
Penso muito em ti, sei que já passou muito tempo, e que já construíste uma nova vida, longe de mim, longe do nosso antigo nós, afastaste-te o suficiente para conseguir evaporar-me da tua cabeça e do teu coração, isso aconteceu, e quando o descobri meu pequeno órgão pulsante começou a secar. Na verdade penso em ti a toda hora, sinto saudades tuas mas não suporto ficar ao teu lado, aguentando essa quase ignorância sobre mim, fazes-me mal quando estás por perto, e sinto saudades tuas quando estás longe, já não sei o que é pior, ou o que é melhor para mim.. Todos os dias caem lágrimas com o teu nome gravado, e todos os dias à noite, antes de dormir, escrevo-te um recado, gravo numa pequena folha rasgada o que as minhas cordas vocais não conseguem emitir.

"tudo o que me deste, e tudo o que passámos dá-me forças todos os dias, é como se estivesse a circular nas minhas veias, como uma substancia vital, e quero que saibas disso, mesmo que não dês importância, quero que saibas que vai ser sempre assim até ao fim dos meus dias, eu sinto que sim."

E todos os dias, antes de dormir, abro a janela, coloco a minha mão do lado de fora, esteja a chover ou não, os ventos levam o pequeno papel, e vejo-o desaparecer no horizonte, como se se tivesse transformado em cinzas. Mesmo que esses contínuos recados não cheguem até ti, sabes tudo o que eu escrevo, porque conheces-me melhor que ninguém.