
Estou trancado numa sala, vazia, estou sozinho e o meu olhar não se desprende da única saída deste lugar: uma porta preta com um ar bastante maciço, está fechada. Rastejo-me no chão para tentar chegar até ela, mas estou mole, as minhas roupas estão muito quentes e coladas ao meu corpo mais que molhado da transpiração. Ouço sons vindos do lado de lá da porta, tudo indica que haja uma festa a poucos metros de mim, as pessoas falam alto, riem e batem os pés ao som da música, variados aromas de comida penetram nas minhas narinas e torturam o meu estômago esfomeado; quero sair, quero participar nessa festa, mas quanto mais força faço para chegar à porta, mais devagar me movo. O meu cansaço é de alguém que correu quilómetros sem parar, mas estou apenas há 2 metros de onde estava no início, e isso desespera-me. Nunca quis tanto algo, nunca me senti tão excluído, tão à parte, sinto que estou a perder momentos de vida, sinto-me cada vez mais um ninguém esquecido. Estico o meu braço e consigo finalmente agarrar a maçaneta da porta, é quando surge um suspiro de esperança, porém os meus dedos começam a derreter como cera quente, e a escorrer pelos meus braços como o corpo de uma vela usada. Deixo-me desfalecer, enquanto todo o meu organismo se transforma em líquido; consigo pensar, consigo raciocinar, mas já não existo, a solidão e a louca e impossível vontade de participar naquela festa mataram-me e transformaram-me em nada. O meu corpo que já não se pode chamar de corpo enrijece e vira apenas uma mancha grossa no chão, a centímetros daquela porta.