Sinto o chão a estremecer, a nossa pequena casa vermelha abana por todos os lados, consigo mesmo sentir as tábuas de madeira que formam as nossas paredes lascarem, às vezes desalinham-se de tal maneira que consigo ver a luz poderosa e apocalíptica lá de fora a entrar por entre elas avisando a destruição. Sinto-me tão seguro aqui dentro, a casa parece prestes a desabar a qualquer segundo, e eu estou simplesmente calmo, por vezes até esboço um sorriso discreto, que define o que sinto por dentro: estás ao meu lado, abraçada a mim, posso sentir o teu calor de uma forma tão intensa que parecemos apenas um, e isso é maior que tudo, isso deixa-me completamente feliz e realizado, e melhor que isso, sei que também é assim contigo! As paredes começam a arder, a nossa 'cabana' no meio do nada está a destruir-se num passe de magia e sinto o coração um tanto apertado por todas as nossas memórias e sonhos estarem a desaparecer, cada metro quadrado tem um pouco de nós, e este nosso sonho (eu, tu e a nossa casinha longínqua) tornou-se a realidade mais perfeita que poderíamos ter, por isso é como se estivessem a arrancar um pedaço das nossas vidas. Mas o medo está longe, esse tão e até demais comum sentimento hoje não se apoderou de mim, no momento mais propício a ele, o meu coração fechou-lhe as portas por tua causa, não há espaço para mais nada, estás aqui comigo e sinto-me a pessoa mais contemplada do mundo, por ter quem eu amo exactamente ao meu lado num momento destes, eu sei que conseguimos ser superiores a tudo, o que sentimos está acima de qualquer coisa concreta, é sobrenatural, existirá para sempre e para além da vida, e isso significa tudo. As chamas nos cercam por todos os lados, já não existe nada, não existe mais vida à nossa volta, o horizonte tornou-se um conjunto de fogo e lava, o céu laranja não parece terrestre, e os nossos corpos debaixo dele começam a queimar como pedaços de madeira, mas não existe dor, tudo o que conseguimos sentir é um ao outro, e morro agora da maneira que sempre quis, com os teus braços enrolados no meu corpo, e a sentir a tua respiração perto do meu ouvido.
31/01/11
15/01/11
come back please.

Quando acordei não estavas ao meu lado, agarrei a parte do lençol em que te deitaste na noite anterior e apertei, como que para ter a certeza que não estavas perdida no meio das suas suaves silhuetas; a minha cabeça começou a perder-se nela mesma, as minhas ideias ainda meio adormecidas começaram a brigar dentro do meu cérebro, mas o meu corpo mantinha-se imóvel. Comecei a pensar se o que tinhas dito hà horas atrás antes de adormecermos era verdade, mas não podia ser, eu queria acreditar que não.. corri pela casa toda, e não estavas em lugar nenhum, nunca fizeste isso, nunca saíste sem me avisar (e nisso lembrei-me das vezes em que acordavas apressada, dávamos um longo beijo e eu sentia as ondas do teu cabelo tocarem-me a face, e os teus lábios despediam-se dos meus com uma louca vontade de ficar mais). O desespero tomou conta de mim e a única frase que pairava nos meus pensamentos era aquela "acho que é a última vez que nos vemos", sentei-me no sofá e fiquei ali por horas, dias, à espera que entrasses por aquela porta, linda e minha como sempre e dissesses que voltaste para mim, e que tudo não passou de uma brincadeira.
05/01/11

Acordei desorientado como todos os dias, mas hoje senti algo diferente, alguma coisa dentro de mim brilhava mais, impulsionava-me o corpo para frente como se me quisesse fazer andar. Apercebi-me logo que seria um dia diferente; no meu colo estava uma mala, o seu couro desgastado mostrava a sua longa existência e a minha mão quase involuntariamente abriu as suas fivelas douradas. Sentei-me na cama, os raios de sol entravam fortes pelo espaço entre as cortinas e eu tirei tudo o que havia dentro da mala, despejei-a toda no meu colchão afundado pelo tempo, e vi das mais variadas coisas surgirem dalí: uma pequena bússola tão delicada que parecia prestes a partir-se, um relógio com numeração romana que indicava serem sete e treze da manhã e uma garrafa cheia de água fresca entre outras. Diante disso não esperei nem mais um segundo, vesti a primeira roupa que vi e abri a porta, coloquei tudo de volta na mala, foi quando senti um objecto redondo lá bem no fundo, uma espécie de pêndulo com uma abertura, lá dentro uma foto tua.. E aí percebi tudo, meu coração preencheu-se, a minha angústia diminuiu um pouco e eu tinha um objectivo. Podia ter pensado que aquilo tudo estava alí para eu chegar até ti, mas bem lá no fundo eu sabia que não, aquilo era a minha saída, segui em frente, procurei uma nova vida motivado pelo que um dia sentimos um pelo outro, por todos os segundos que passámos juntos e estavam alí, recordados naquela fotografia tua. Resolvi procurar voltar a sentí-lo novamente, mas abrindo novos horizontes.